Tuesday, August 10, 2010
A Energia "Verde" em Ascensão
Por Clive Thompson*
Algumas fontes alternativas já são mais baratas do que o petróleo ou o carvão, e muitas empresas começam a pensar nelas.
Nova York.- Os Estados Unidos sofrem uma nova crise energética. Os preços da energia subiram vertiginosamente e contínuos apagões afetaram seriamente Estados com alta tecnologia, como a Califórnia. Os negócios estão enfrentando efeitos negativos e, quando a luz acabar, como funcionarão os novos e sensíveis computadores com muitos gigahertz de potência? Para a Casa Branca, existe somente uma solução: perfurar muitos poços para conseguir mais petróleo. O vice-presidente Dick Cheney (um ex-petroleiro) disse que a meta nacional seria a produção de uma nova geradora de eletricidade por semana nos próximos 20 anos. Isso significaria perfurar em territórios ambientalmente sensíveis perto de Yukón (no Alasca) e afrouxar as limitações existentes por motivos ambientais.
Para Cheney, tudo isso de conservação dos recursos naturais, das fontes alternativas, da energia “verde” sustentável e da defesa das florestas e do meio ambiente não passa de charlatanismo “hippie”. Acontece que Cheney está completamente enganado. As fontes de energia alternativas deram passos de sete léguas nos últimos anos. Graças aos novos progressos, alguns tipos de energia “verde” são tão ou mais baratos do que a gerada pelo petróleo ou pelo carvão, e muitas empresas já estão começando a adotá-los.
É verdade que a energia “verde” ainda é uma pequena fatia no total do fornecimento de energia, mas os especialistas esperam que cresça rapidamente. Vejamos, então, o estado atual em alguns poucos setores da energia alternativa: A eletricidade gerada pelo vento é quase que resplandescentemente limpa, o preço baixou cerca de 80% nos últimos 20 anos e as companhias de turbinas de vento da Dinamarca - as primeiras do mundo - começaram a dar passos gigantescos em relação à qualidade. É relativamente barata: a energia eólica custa apenas 5,8 centavos de dólar por kilowatt/hora, preço que a coloca lado a lado com a eletricidade gerada com gás natural. Uma única objeção: para obter esse tipo de eletricidade de baixo custo são necessários ventos que soprem continuamente em uma única direção, como costuma acontecer nas grandes planícies, mas não em outras áreas.
Outro exemplo de energia "verde" é a microturbina. As grandes usinas geradoras de eletricidade tradicionais, que fornecem energia para uma grande área, não são muito eficientes. Uma parte da eletricidade é desperdiçada quando é enviada a longas distâncias. Nas geradoras de eletricidade norte-americanas, apenas um terço, em média, da energia gerada por meio de carvão ou de petróleo chega aos consumidores na forma de eletricidade.
Qual a solução? Por exemplo, gerar a própria eletricidade, já que aumenta a eficiência e a confiablidade, além de representar uma economia. As grandes companhias fazem isso há anos, já que possuem suas próprias geradoras de eletricidade. Atualmente, estabelecimentos comerciais de médio porte estão fazendo o mesmo. Compram microturbinas que geram algumas centenas de kilowatts, ou menos, mas que são suficientes para uma única empresa. A maior economia é obtida quando também se usa a microturbina na calefação de escritórios, o que pode fazer com que a eficiência aumente até assombrosos 80%.
A tecnologia de célula eletrógena é outra alternativa. As células são acionadas por hidrógeno, que se decompõe para produzir eletricidade e água, seus únicos subprodutos. São superlimpas, muito silenciosas e quase não apresentam dificuldades para ser usada (o que é um problema nos geradores a diesel). É por isso que a indústria automobilística dos Estados Unidos investiu cerca de US$ 2 bilhões no desenvolvimento de sistemas de células eletrógenas para carros, sendo que quase a metade está a cargo da Ballard Systems Inc., a principal empresa dessa área.
Por fim, há a eletricidade produzida pela energia solar, que ainda não é tão barata como, por exemplo, a energia eólica, mas os preços estão baixando na razão de 5% ao ano. Os atuais sistemas fotovoltáicos produzem eletricidade a cerca de 7,9 centavos de dólar por killowatt/hora, uma vez que se amortiza o custo do equipamento, segundo estudo feito em 1996 pela Californian Energy Commission.
Essas novas tecnologias são apenas a ponta do iceberg. Existem muitas mais, como o combustível produzido por biomassa, as usinas que produzem gás metano utilizando lixo, ou a energia geotérmica, que utiliza o calor da terra para aquecer a água. De fato, uma das pessoas que está usando a energia geotérmica é nada menos do que Dick Cheney. Há alguns meses, os meios de comunicação descobriram que o vice-presidente norte-americano está usando a tecnologia geotérmica para esquentar a água em sua casa de Washington, já que ela ajuda a conservar a energia e reduzir o gasto de eletricidade. Talvez, Cheney saiba algo que não esteja nos dizendo. (Copyright IPS)
(*) O autor é comentarista de temas tecnológicos e políticos da National Public Radio do Canadá e da Canadian Broadcasting Corporation.
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